quarta-feira, 25 de maio de 2011

A função social da Universidade: uma manifestação contra as pequenas grandes violências!

O que esperamos da Universidade responsável?

Geralmente quando pensamos na função Universidade para a sociedade, pensamos em bons cursos, que formam bons profissionais, que atuarão no mercado de trabalho de maneira responsável e ética. Também pensamos nos projetos voltados para o social e etc.

O que me questiono é o seguinte: será que tudo isso que "devemos" ser, é realmente ético ou tem uma função social realmente transformadora?

Muitas vezes nos projetos universitários voltados ao social, ouvimos falar que é feio dizer que a intenção do projeto é 'emancipar' a população, a comunidade. Isso gera um certo constrangimento entre aqueles que atuam em tais projetos e na realidade não conseguem enxergar nenhuma outra função no mesmo, se não a de gerar renda, trabalho, e tornar a economia um pouco menos injusta, acabar com a miséria extrema, e fortalecer o Brasil no cenário internacional.

Essa atitude pode levar à uma redução de danos, mas não pode ser entendida como uma função nobre e final. Nossa função não é pacificar a população. Não devemos intermediar a comunidade com os órgãos governamentais, nem com os órgãos prestadores de serviço e dizer que resolveremos seus problemas. Isso porque acabamos sendo prepotentes na nossa função. Não abandonamos a lógica de um pastor que irá guiar as ovelhas. Devemos ser sinceros ao iniciar alguma ação social e mostrar que apenas compartilhamos das mesmas angústias e gostariamos de dialogar sobre soluções coletivas para os problemas que aflingem toda sociedade.

Nossa função portanto não é apenas repassar verbas estatais para a população por meio de serviços prestados gratuitamente. Devemos ter um objetivo maior nisso, isto é, saber que não queremos que essas pessoas dependam desse serviço eternamente, criando assim um novo mercado assistencialista.

O nosso objetivo deve ser compartilhar angústias que aflingem tanto aqueles que estão dentro da Universidade como aqueles que estão fora. Porque passamos por problemas em comum, e podemos resolvê-los conjuntamente.

Pegamos onibus lotados todos os dias, que passam em horários errados. Somos muitas vezes tratados mal em órgãos públicos. Somos esquecidos nas tomadas de decisão, mesmo afirmando que vivemos em uma democracia.
Sofremos violências todos os dias, mesmo sem perceber. Quando andamos na cidade, não temos espaços de convivencia. Existem mais estacionamentos para carros do que espaços para nós. E pode ser bom um lugar para estacionar nosso carro caso tenhamos, mas também seria legal descer do carro e ter um lugar bacana para ir. Não tem lugar para andar de bicicleta, correr, etc.
Nos estágios muitas vezes nos tratam com indiferença, ou até mesmo com falta de educação, mesmo que ganhemos pouquíssimo para isso. Alguns professores nos tratam pior que um animal, devido sua "superioridade acadêmica".
As mulheres se sentem constrangidas ao levar uma "cantada" de qualquer um, como se fossem um pedaço de carne. Os homens tem que fingir que são "machos" sempre. Os homossexuais tem que se cuidar ao passar por um grupo de homens, com medo de violência.

Enfim, sofremos violências grandes e pequenas que guardamos pra nós todos os dias, sendo nós acadêmicos ou não. Se colocar em uma situação superior e pensar que vamos "ajudar" a comunidade gera mais violência, porque não assumimos as violências que NÓS sofremos, que TODOS compartilham.

Essas pequenas violências nos irritam cotidianamente. Dizemos que estamos stressados. E realmente um ataque de irritação diante de qualquer problema cotidiano pode causar uma vida stressante e pode até mesmo dificultar a convivência com os demais. Mas se nos organizassemos, dividíssimos nossas angústias e resolvessemos nossos problemas conjuntamente, o sucesso seria muito maior.

As vezes pensamos que resolver os problemas coletivamente leva muito tempo, mas essa idéia é resultado de movimentos sociais ultrapassados, que não inovam nas suas formas de manifestação, que não fogem da burocracia e não acabam com pequenas violências cotidianas.

Lílyan Nascimento
da Coordenadoria de Cultura

Importante destacar que esse texto é apenas uma reflexão de um@ membr@ do DCE..

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